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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

       


         " A Casa Verde e Outros Poemas"
        de Cyro de Mattos Vai Ser Lançado
        na Academia de Letras da Bahia
        
       
       O livro A Casa Verde e Outros Poemas, de Cyro de Mattos, com tradução para o inglês do Professor Emérito da UFBA, Doutor Luiz Angélico, vai  ser lançado na Academia de Letras da Bahia, em Salvador, no dia 24 deste mês, às 17 horas.  Na oportunidade, o autor fará uma palestra sobre o Museu Casa Verde, que está há anos desativado.  O livro compõe-se de duas partes, como o próprio título indica. No primeiro momento, o poeta baiano Cyro de Mattos inspira-se na Casa Verde, que serviu de residência a Henrique Alves dos Reis (1861-1942), coronel do cacau, e sua esposa, dona Cordolina Loup dos Reis, a filha Elvira e o genro Miguel Moreira, que foi prefeito de Itabuna.
       O segundo momento  é formado pelos poemas “Canto a Nossa Senhora das Matas”, “Um Poema Todo Verde”, “Morcego”, “Boi”, “Galos”, “A Roda do Tempo”, “A Árvore e a Poesia”, “Passarinhos” e “Devastação” (I,II). São poemas de vibrante força telúrica, puros como o chão de quem possui um modo próprio de fazer poesia universal sem perder de vistas os muros da aldeia,  por meio de um  timbre nativo da origem tornada linguagem, como bem sublinhou o crítico e poeta Ledo Ivo. São poemas que se inserem, também, nas questões ecológicas dos tempos atuais.
      Cenário de Luxo
Com versos despojados, de lirismo puro, o premiado poeta baiano (de Itabuna) faz uma viagem no tempo perdido e busca recuperar sua alma através do diálogo que estabelece entre a poesia e a memória, que é o lugar de onde emerge a história com as pessoas, fatos e coisas. Local de importantes decisões políticas do município, reuniões sociais e festivas, a Casa Verde tornou-se cenário de luxo e requinte nos anos 30.

      Vale a pena lembrar que  A Casa Verde e Outros Poemas traz a tradução primorosa para o inglês realizada pelo poeta, ensaísta e Professor Emérito Doutor Luiz Angélico. Homem erudito, simples e fraterno, de uma atuação admirável como professor de inglês no curso de Letras da Universidade Federal da Bahia, tradutor renomado, sua tradução para a língua inglesa de A Casa Verde e Outros Poemas é possivelmente um de seus últimos trabalhos no setor, antes de nos deixar para outra dimensão. O poeta Cyro de Mattos ao dedicar-lhe o livro não só celebra a amizade e o apreço que tinha por ele como  presta justa homenagem a quem tanto se dedicou ao ensino do inglês na UFBA e à arte da tradução, desvendando com competência seus limites e modos para que muitos possam conhecer a linguagem de outros povos, com sua alma, seus costumes, seu cotidiano, suas dores e sonhos. 

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

              


                  Romance  da Infância 
          
                  Cyro de Mattos

Já vai longe o tempo da infância na cidade onde nasci. Tinha poucas ruas calçadas,  três ou quatro bairros, o jardim, o cinema, o ginásio e a igrejinha. Seu rio, chamado  Cachoeira, descia sereno no tempo de estio. Era brabo na cheia, derrubava as casas ribeirinhas,  alagava ruas, levava no lombo  até bicho grande morto. Dividia a cidade em duas partes. Uma gente pobre tirava dele o sustento de suas famílias: lavadeiras, tiradores de areia,  pescadores e aguadeiros.
Lá, naquela cidade distante,  joguei bola com a turma de queridos amigos nos campinhos improvisados dos terrenos baldios.  Roubei fruta madura nos quintais das casas perto da beira do rio.  Brinquei de mocinho e bandido. Fiz a primeira comunhão e tive a primeira namorada. Esbanjei alegria no meu primeiro carnaval pelo salão do clube social. 
Lá também criei vaga-lumes para vê-los à noite piscando no quarto. Nadei como um peixe ágil nos poços bem claros do rio que tinha as águas doces. Andei como um bicho solto, sem ter medo  de nada, nos caminhos do mato. Feito pássaro dava cada voo com o vento mais alto. Quando cresci, soube que  a infância tem um sabor de fruta doce  que acaba quando chega o tempo dos homens.
              Não querendo que aqueles dias vividos com aventuras, descobertas e sustos esplêndidos se perdessem no tempo que se foi, sem que eu percebesse de tão rápido, ficando na alma trancados pelos homens,  resolvi então escrever algumas breves ficções com pedaços da infância. Nesses episódios que reinventei  com os fios eternos do sonho, procuro   compartilhar com quem quiser ler  um pouco da aventura da vida. Percorro caminhos,  para encontrar o menino na fumaça do tempo, mas que ainda pulsa no meu coração porque não se cansou de ser menino. Assim, anuncio que acabo de escrever meu segundo romance, Nada Era Melhor, que se destina ao leitor iniciante, mas também adulto. .
Cada  episódio desse romance  pode ser concebido como uma história, já que  possui autonomia na sua narrativa, conduzida na trama  com  os elementos tradicionais do tempo desmembrado com princípio, meio e fim. Como cada um dos episódios  é protagonizado por um menino em sua pré-adolescência, tendo como espaço de  suas aventuras  a infância,  o lugar onde elas acontecem sendo  uma cidade do interior baiano, no caso a cidade onde nasci, na primeira  metade do século XX, com personagens secundárias que  participam algumas vezes de muitos eventos,  não se pode deixar de considerar que Nada Era Melhor é uma história representativa da primeira fase da vida. Um romance,  de iniciação, como alguns escritores já fizeram na literatura ocidental.  E de maneira fascinante.
Mas aviso aos navegantes da barca literária que longe de mim a  pretensão de querer ser um  desses admiráveis ficcionistas, tecedores  da infância  com pedaços coloridos duma aventura inocente e vibrante.  Estaria realizado como autor se, por exemplo,  tivesse assinado Menino de Engenho, de José Lins do Rego, ou  Menino no Espelho, de Fernando Sabino.