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quarta-feira, 12 de outubro de 2016


O Mundo É Uma Criança Com Palhaço e Lambança

Cyro de Mattos


No domingo azul eu vou.
Vou ao circo do Perneta,
Sou um grande torcedor
Do palhaço Maçaneta
Que é chorão e domador,
Pugilista e trapezista,
Tem calombo na careca
E faz tram com a trombeta.
Vou vibrar com Baioneta,
O mais doido jogador
Que eu já vi neste planeta,
Com o canhão enganador
Ele acerta cada bola
Bem no alvo lá no alto
E aos gritos da galera
Marca mais de cem mil gols
Deixando mudo e trombudo
O elefante marcador.
Vou brincar com Mexe-Mexe,
Palhacinho bem legal,
É preciso ver pra crer
Do que ele é capaz
Quando pega o tamborete
E de jeito fulminante
Faz sumir da sua frente
O gigante Barrabás
Numa cena sem igual
E depois bem serelepe
Canta e dança e mexe-mexe
E com seu revólver Bum
Que dá um tremendo estampido
Quando ele aperta o gatilho
Adivinha o que faz?
Dispara para todo lado

Balas de mel e chiclete.

sábado, 8 de outubro de 2016

                

          

                                  Bilhetes Guardados no Coração:  
  

          Do romancista Jorge Amado - “Duas obras-primas os dois pequenos livros que Cyro de Mattos escreveu para crianças de todas as idades, “O Menino Camelô” e “Palhaço Bom de Briga”. Uma beleza, melhor dito, duas belezas.”

Da poetisa Stella Leonardos  - “Lendo Cyro de Mattos – Além de ingênuas lorotas/ E irreverentes caretas/ Das gaiatas cambalhotas, /Dos saltos mortais e piruetas,/ Cômicas acrobacias,/ O coração pura música/ Dos palhacinhos – poesia/ Do Cyro da infância lúdica/ Desenhando com mestria.

Do poeta Telmo Padilha: Os Brabos é essa obra-prima, revolucionária, no texto e na idéia.”

          Do contista Hélio Pólvora: Em Cyro de Mattos sente-se sem esforço a vontade de escrever e a paixão de escrever. Por isso,  seus contos trazem a marca das coisas sofridas, pensadas, remoídas, cristalizadas.

Do romancista José Cândido de Carvalho - “Com “Violentos e Desalmados”, Cyro de Mattos cria gente e linguagem.”

Do poeta Carlos Nejar - “Poeta de voz límpida como o seu rio, de música e sabedoria do silêncio.”

Da poetisa  Olga Savary -“Poesia tão bela, consciente, límpida, plena de vida e cor. O livro todo – “Ecológico” – é esplendoroso.”

Do poeta Carlos Drummond de Andrade - “ Uma notícia irrompe desta árvore/ e ganha o mundo:/Verde anúncio eterno./ Certo invisível pássaro presente/ Murmura uma esperança a teu ouvido.”

Do tradutor Curt Meyer-Clason - “Li e reli seus poemas, com os sentidos encantados e admirado pelo seu talento mágico. (Ich habe Ihr Werk gelesen und wiedergelesen mit dem Entzücken der Sinne und der Bewunderung  für Ihr magisches Talënto)”.

Do poeta Fernando Mendes Viana - “É um lírico autêntico. Canto social sem demagogia.“Viagrária” é puro como o chão, depurado verso-semente, livro digno de um verdadeiro poeta.”

          Do poeta  Alfredo Pérez Alencart: “Un poeta brasileño que merece un ciertísimo aplauso: Poesía y Vida, un largo camino que ahora se acopia para que no exista destierro: y tampoco olvido. ¡Purifica la emoción, Poesía!”

Da ensaísta Nelly Novaes Coelho:  “Rio Morto é uma bela e nostálgica visão do que os homens estão fazendo hoje com o mundo em que lhes cumpre viver. É belo e doloroso esse poema... Que os homens sintam tocados por ele!”.

Do crítico  Carlos Felipe Moisés: “Para além dos localismos mais ou menos exóticos, o lugar da poesia é qualquer lugar onde o poeta circunstancialmente esteja, disposto a permitir que a “cor local” se transforme em paleta multicolorida – como o faz, com maestria, o poeta de Itabuna.

          Do poeta  Marcos Lucchesi: “A alegria de um rio me captura na altitude dos desejos,  na grande satisfação de uma obra de encantamento, fino!”


Do romancista Antonio Torres: “Tive o prazer de ler o seu livro "Poemas Iberoamericanos", encontrando nele, entre líricas memórias, encantatórias leituras e releituras, um texto que se insere perfeitamente nas atualidades nacionais: o poema "Pátria Amada", que parece reescrever, ao mesmo tempo, o de Gonçalves Dias que lhe serve de mote, e o "Pátria minha", de Vinícius de Moraes. Bela sacada.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016


                 O impeachment da presidente
                                    
                                    Ives Gandra Martins
  
 processo de impeachment não foi um subterfúgio político, com embasamento jurídico, para afastar a presidente Dilma Rousseff por ter derrubado o PIB brasileiro, em 2 anos (quase 10%), gerado 11 milhões e 400 mil desempregos, elevando a inflação para a casa dos dois dígitos, governado o país com 113.000 não concursados, que propiciaram o maior assalto às contas públicas, em nível de corrupção jamais visto na história do mundo. O impeachment decorreu do fato de a Presidente Dilma, no ano de 2014, ter mentido para o povo brasileiro, dizendo que as finanças públicas estavam em ordem, com o objetivo de reeleger-se, mas utilizando de uma monumental ilegalidade, qual seja, pegar dos bancos públicos 40 bilhões de reais, o que é proibido pela lei de responsabilidade fiscal, para cobrir os furos orçamentários e apresentar-se como candidata que bem administrava o país. Quarenta bilhões de segundos representam em torno de 1.200 anos. Foram 40 bilhões de reais.
O Tribunal de Contas da União, por unanimidade, rejeitou suas contas pela violência praticada à lei de responsabilidade fiscal que vedava tal procedimento e ela sofreu o processo de impeachment por esta razão. Não houve qualquer golpe, pois 367 deputados entre 513 e 61 senadores entre 81 consideraram que o impeachment é legal e legítimo, supervisionados por 11 Ministros da Suprema Corte.

Se golpe houve, foi da Presidente Dilma contra a verdade, contra a lei de responsabilidade fiscal, contra a boa administração das Finanças Públicas e, fundamentalmente, contra a nação brasileira, pois se reelegeu, exclusivamente, por força desta mentira apresentada aos eleitores.

É de se lembrar, além disto, que, em recente “Resolução do diretório nacional do PT”, após o afastamento da Presidente, seus dirigentes lamentaram o fato de não terem alterado as estruturas da Polícia Federal, do Ministério Público e das Forças Armadas, assim como o financiamento da Imprensa. Não modificaram porque não puderam, pois são instituições do Estado e não do Governo e a Imprensa é livre. A corrupção do seu governo foi detectada por tais órgãos, que não estão subordinados ao Palácio do Planalto.

O Instituto dos Advogados de São Paulo e o Colégio de todos os Institutos de Advogados do Brasil publicaram livro onde consta, inclusive, trabalho do relator da Constituinte, Bernardo Cabral, em que 21 renomados juristas mostraram os inúmeros atos de improbidade administrativa praticados, dos quais só um serviu de base para o impeachment. Mais do que isto, disponibilizaram, esses Sodalícios, seu acesso (http://www.iasp.org.br/livros/impeachment/). O Conselho Federal da OAB ingressou com um pedido de impeachment, ainda pendente na Câmara, com a descrição de outros atos de improbidade não constantes da petição acolhida. É uma acusação muito mais ampla.
A tentativa, pois, de desfigurar a democracia brasileira no exterior, dizendo que é golpe, sem dizer o nome dos golpistas (367 deputados? 55 senadores? 11 Ministros do STF?), foi profundo desserviço à nação, além de ostensiva violação à Lei de Segurança Nacional.

Lamento que a Presidente afastada, em vez de se defender, procurando explicar por que permitiu que o seu governo se tornasse o mais corrupto da história do mundo, tentou desfigurar os fundamentos da democracia brasileira, cujas Instituições funcionam em estrita obediência à lei e à Carta da República.
Por fim, quero lembrar um aspecto jurídico, de particular relevância para compreender o impeachment presidencial.
O artigo 85 da CF, inciso V, declara que o ato de improbidade administrativa justifica o impeachment.

Por outro lado, a lei de 1992, que elenca os atos de improbidade administrativa, estipula que “ato ou omissão” constitui improbidade administrativa, sendo certo que essa lei, contestada na Suprema Corte foi considerada constitucional.

Ora, houve impressionante omissão presidencial em permitir, durante oito anos, isto é, desde que era presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, um assalto à maior empresa do país, reduzindo-a, na Bolsa, a pouco mais de 10% de seu valor, para financiar as campanhas de seu partido. É difícil acreditar que não sabia de nada. É de se lembrar que todos os que se apropriaram do dinheiro público eram pessoas de seu partido, objetivando financiar sua campanha e enriquecer-se simultaneamente.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica no sentido de que tanto o dolo como a culpa (imperícia, negligência, imprudência ou omissão) são atos de improbidade. (Fonte, El País,
A improbidade administrativa da presidente está plenamente justificada, não só face ao direito, quanto à ética. Mereceu ser afastada.
Num país parlamentarista, há muito tempo que já estaria fora do governo. (Fonte jornalEl País, 1 de setembro de 2016)

Ives Gandra da Silva Martins é professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/O ESTADO DE SÃO PAULO, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército - ECEME, Superior de Guerra - ESG e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região.  É também poeta expressivo.


terça-feira, 4 de outubro de 2016

                      Contos dos Mares da Bahia  
                                    
                                   Gerana Damulakis
                             
      Histórias dos Mares da Bahia é uma antologia específica e, como tal, seu organizador optou por planejá-la segundo uma circunstância comum: o cenário, ou seja, os mares da Bahia. As antologias literárias específicas não pretendem cobrir a produção literária visando abarcar um todo, porém miram determinado aspecto que reflita um interesse especial. É importante a organização de uma antologia de contos que guarde um ponto comum e essencial, presente em todos os textos. Mais interesse surge se pensarmos na extensão da costa baiana, pois o nosso é o estado brasileiro com o maior litoral, haja vista seu impressionante número, cerca de 900 km, que indica 12, 4% do litoral brasileiro.
     Diante dos números, fica óbvio que a arte baiana tem o mar como presença praticamente obrigatória. Mas isto não é verdade quando se trata da arte literária. O mar não está como cenário constante na maioria dos textos, quer se pense nos romances, quer a leitura se fixe nos contos. Talvez se faça mais cantado na poesia. É certo que na obra de Jorge Amado encontramos tanto o mar, quanto as plantações de cacau, como cenários recorrentes de seus romances, que são os romances da Bahia, como o próprio escritor os denominou. E Adonias Filho lançou seu personagem rumo ao mar, para se entregar à vida do mar, abandonando tudo o mais, em Luanda Beira Bahia. No gênero conto temos alguns exemplos, tais como “O Arpoador” e “A Noiva do Golfinho”, de Xavier Marques, como marcos importantes. De Vasconcelos Maia, com seu conhecimento sobre o mar, dono de saveiro que era, temos os contos “Cação de Areia”, “Tempestade” e “Um Saveiro Tem Mais Valia”. Mas, reparando bem, os escritores baianos preferem ver o mar da praia, ou no cais, em terra firme olhando o mar, só que, nesta altura, levantar tal questão não tem muita importância. De forma que o organizador Cyro de Mattos traz contos pinçados das obras de cada autor presente em Histórias dos Mares da Bahia.
      Sendo vários autores e, claro, vários estilos, a versatilidade que o livro apresenta pode ser entendida como exemplos da sabedoria que o mar deixou em cada autor, o que cada um arrebanhou ao longo de suas vidas e de seus contatos com a vastidão do Atlântico. O mais relevante nesta antologia são fatos reais: o fato primeiro de juntar os textos, depois o de registrar tais textos mediante a publicação, a exposição dos autores e, por fim, mostrar e chegar aos leitores mais uma produção que enriquece a literatura baiana. A roda da engrenagem avança mais um dente.

           
        (Salvador, olhando para o mar da Baía de Todos os Santos.)

*Gerana Damulakis é ensaísta e crítica literária. Ocupa na Academia de Letras da Bahia a cadeira que teve como último ocupante o escritor Hélio Pólvora.