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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Ladinos Árabes Conterrâneos

                                                   
   Por Cyro de Mattos 

Nutro afeição pelas  minhas origens, em especial pela cidade onde nasci e resido. Itabuna foi um burgo de penetração na época do desbravamento e conquista da terra. Sempre me vi na empatia dessa relação entre  homem  e  civilização na qual houve uma saga  nascida com a implantação da lavra do cacau pelos que por aqui passaram tangendo ventos primeiros.  Na manhã em que  bebi água de ribeirão,  não é difícil  que eu me  surpreenda ao lado do sergipano, o negro, o árabe e o índio.

E, se falo agora do árabe como elemento que integra essa civilização,  é em razão dos acontecimentos abomináveis que aconteceram em Paris quando terroristas islâmicos invadiram  a redação do jornal Charlie no ato covarde que abalou o planeta.  De sã consciência não se pode estender o ato criminoso, insano,  dos mais primitivos, ao povo árabe como um todo, constituído na  maioria com a crença  religiosa em Maomé e de uma minoria fiel ao Cristo.

Os árabes, que reportam  as tradições de seu país à mais remota antiguidade,  um dia desceram do Oriente e aportaram em Ilhéus, no sul da Bahia. Espalharam-se por essas bandas, fixaram-se em cidades no nascedouro da vida. Abriram  picadas para vender as bugigangas, que o burro levava ao homem ilhado na selva,  já se preocupando em fincar raízes com a família na terra promissora.  As picadas depois viraram estradas ligando gente que de tão distante um não conhecia o outro na selva hostil. De longe, os árabes chegaram e   iniciaram os nativos na sua maneira  de  fazer  uma  culinária saborosa.  Animaram o Carnaval com suas fantasias de beduíno, faraó, Cleópatra, odalisca e bailarina. Vidrilho, lantejoula, confete e serpentina vendiam no armarinho. E mais:  cetim, tafetá, seda, renda e tapete.   Deram enorme  contribuição  no desenvolvimento do comércio. Instalaram  lojas para vender artigos de campo e cidade. Tinham uma vocação nata para vender e comprar. Vendiam bem e compravam melhor. 

A memória acordada no fumo do tempo lembra a professora Lourdes  Hage, que me ensinou o ABC na Escola do Montepio dos Artistas. As  famílias Midlej, Maron, Sussa, Salume, Neme, Atalah, Haun, Habib, Harfush e  Agle. Alguns de seus descendentes estudaram comigo no único  ginásio da cidade.  Eram alunos aplicados e inteligentes.  Vejo, assim,  uniformizados, comparecendo alegres ao ginásio os alunos  Abud,  Mary Kalid, Abla e  Marcel. Como vejo ainda na sala de aula as professoras Odete Midlej, Lode  e Alice Maron. Não devo esquecer o professor Arbage, ele me ensinou a gostar de matemática. O recreio ficava uma delícia com os sorvetes do Danúbio Azul, de Seu Sussa. A sorveteria ficava perto do ginásio.

Transmitiam o hábito do saber com facilidade aquelas três professoras do nosso ginásio.  Odete Midlej ensinava português, Lode era a professora de desenho,  Alice Maron  lecionava  francês.  Aprendíamos com suas lições que estávamos sendo preparados para ser gente. O fato de aprendermos  com aquelas professoras,  vindas de terras  estrangeiras onde a língua era outra,  falando corretamente  o nosso idioma  agora, causava admiração entre os estudantes. Abro parêntesis para o amor entre o estudante Nassim, também árabe, e a professora Alice Maron. Descobriram-se apaixonados, um dia. Beijaram-se, na mais linda forma do amor, sem ligar para o olho alheio. Casados mudaram para o Rio onde ergueram seu ninho, dizem que fugindo das más línguas itabunenses da época.

Os seres humanos continuam  andando nos mesmos passos em qualquer lugar desse velho mundo.  Entre o bem e o  mal,  vento verás ventar canção, disse o poeta. Há milênios que as religiões vêm tentando mostrar ao ser humano que braço ao abraço a rosa fica mais fácil de ser colhida no cotidiano da vida.  Há milênios nós os humanos estamos construindo  a história de nossa condição com intolerância, violência, egoísmo. O que sabemos de  Deus? Da dor e a solidão? É preciso  fazer a separação do que é a regra e o desvio da ternura movido por forças irracionais.

Quando menino, conheci aqueles árabes, os meninos de  minha  geração chamavam eles de  gringos. Jogavam gamão na manhã de domingo, no Itabuna Clube. Falavam uma língua que eu não entendia sequer uma palavra. Faziam-me sorrir. Terminada a distração deles com o jogo, saíam alegres, tagarelando na sua língua engraçada. Não devemos confundi-los, como de resto grande maioria,   com perversos terroristas islâmicos. Merece repúdio o terrorismo, não deve prosperar o ato covarde que vitimou os doze jornalistas na redação do jornal Charlie.  Em nome da liberdade de expressão não se deve agredir, também,  a crença  de outras religiões e fomentar o ódio.    

 Maomé, o fundador do islamismo,  e Cristo, o bem-amado salvador da humanidade,  dizem da unidade de Deus,  paz e amor. 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Os Velhos São Boa Gente

Ono no Komachi (por Ogura Hyakuni Isshu)
Por Cyro de Mattos

Condenados à inutilidade, os velhos estão sempre pesando. Sofrem rejeição  sob vários  aspectos.  Saber  que a vaga já está preenchida por outro em razão da idade mais  moça,  não é nada agradável.

Não existe imagem única sobre a velhice. Cada pessoa envelhece como viveu. Existem maneiras de envelhecer. De todos os males que chegam com a velhice, a falta  do que fazer parece ser  o  pior, o  mais  temido  inimigo. Conheci uma criatura que teve de parar de repente, depois de quarenta anos de atividade ininterrupta. Foi como uma morte. Ficava em estado lastimável. Vagava pela casa, de péssimo humor, implicante e deprimido. Só venceu a crise depois que encontrou uma atividade. Mas sabemos que    essa alternativa nem sempre ocorre.

Num mundo dirigido e  feito  para  jovens,  onde se vê forte obsessão pela sensualidade, sendo supervalorizadas a beleza física e a juventude,  o que fazer com essa gente velha? Cumprida a função na família, peso inútil na comunidade,  mais  nada  a esperar da vida, de  repente cada um  se vê  sozinho. A família  em  geral  repugna  a solução de um asilo de velhos,  sinônimo de abandono e solidão. Alguns povos do passado costumavam abandonar  gente idosa da comunidade num lugar deserto. Entre nós, hoje, o que devemos fazer com os nossos velhinhos?

O  ideal  seria  a  criação de um  centro  comunitário, onde  eles  se  sentissem  em  família,  tivessem  ali  todo  o conforto e assistência. Fosse então erguida a vila,  construída de preferência  para  o nascente , talvez  numa colina onde a vista desse para o mar. Receberiam o espetáculo do nascer do  sol  ou  da  lua  cheia  derramando prata  nas  ondas  do mar. Não   faltariam na  vil a árvores frondosas e frutíferas, passarinhos que em alarido viriam saudar os hóspedes todas as manhãs. Não poderiam deixar de faltar jardins com flores. O perfume  serviria para  suavizar  o  coração acordado  na lembrança.

A  vila  seria um  pedaço  do  céu. Não  haveria  lugar para a tristeza, música lá só alegre, aconselhável que fos¬se  entoada  pelos  hóspedes.  Ninguém  teria  vergonha  de mostrar  o seu talento  nessas horas.  Quem    soubesse tocar algum instrumento tocava. Com o maior prazer seriam atendidos  os pedidos de bis que a plateia entusiasmada reclamasse. Quem fosse poeta,  querendo declamar seus versos queridos, declamava.

A v i l a teria quartos com janelas de claridade e vento amigo. Refeitório amplo, salas de televisão,  para reuniões, capela e um pequeno teatro. O horário para as re¬feições seria flexível. Os hóspedes seriam livres para agir como quisessem durante o dia. Quem não quisesse sair, poderia ficar conversando no papo amigo ou se ocupando em fazer algum trabalho manual que lhe desse prazer. Os aniversários seriam comemorados como um momento especial, muito doce, naquele tom afetivo que costuma acontecer em família. A vida passaria sem que se desse conta, no enlace dos dias com amor. E o que você e acha desse lugar idealizado assim para esses bons velhinhos seja chamado A Barca Boa da Felicidade?


Jornal Diário Bahia


Confraternização da Academia de Letras de Itabuna- ALITA
Publicação do Jornal Diário Bahia
Coluna Betânia Macedo
Em 16-01-2015


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

TV e Rádio Arte Al Dia, de Salamanca elogiam Livros de Cyro de Mattos


Assinada pelo poeta Alfredo Pérez Alencart, professor da Universidade de Salamanca, a TV e Rádio de Salamanca, na  Espanha, comentou quatro livros de Cyro de Mattos publicados no ano passado: Os Brabos, novelas, Orátório de Natal, infantil, A Casa Verde e Outros Poemas e  Os Ventos Gemedores, romance.

     Abaixo transcrevemos a matéria de Alfredo Pérez Alencart que foi divulgada na TV e Rádio de Salamanca, programa Arte Al Dia:

Buena cosecha de Cyro de Mattos


Un escritor completo resulta el brasileño Cyro de Mattos (Itabuna, Bahía, 1939), una personalidad de esas tierras del Nordeste tan próximas a la parte materna de mis genes.

Tiene mi aprecio como buena persona que es, sencilla en su humilde grandeza, y tiene, también, mi alta estima como autor de novelas, relatos, crónicas, piezas dramáticas, artículos… Pero es en la Poesía donde se le puede encontrar en su mejor dimensión: tiene múltiples registros, desde el cántico erótico hasta la ofrenda a lo Divino, pasando por lo telúrico, por el paisaje que lo trasvasa a la infancia como paraíso primero.

Poeta que en su libro ‘La Casa Verde y Otros Poemas’ (3ª edición bilingüe portugués-inglés, Mondrongo, 2014) confiesa: “Extraño vértigo/ de ser aroma/ en medio del círculo”. Así, desde su sereno estar en la tierra, el escriba de Itabuna no deja sosiego a la creación, razón por la cual la cosecha de estos meses precedentes ha sido copiosa y de excelente calidad, atractivo aroma de poemas y prosas que portan emoción y pensamiento, gratitud y preocupación a partes iguales. Más siempre el sello de Poesía que dice mucho: “En cada cosa que toco,/ en cada voz que escucho,/ en cada sombra que adivino,/ hay un gesto lejano/ de cierto pájaro presente/ que canta en mi oído/ e invisible conquista el silencio”.

Estos días he recibido cuatro libros de Cyro de Mattos. El ya citado ‘La Casa Verde…”, donde memora las figuras de dos antiguos residentes de su ciudad, Henrique Alves dos Reis, nacido en 1981, y de su esposa Carolina, dueños de una casa que tenía y tiene ese color, y donde ahora funciona el Museo Casa Verde. La segunda parte del libro contiene nueve poemas, uno de los cuales ahora traduzco por vez primera. La traducción al inglés es Luiz Angélico, catedrático ya fallecido, mientras que la ilustraciones son del artista Ângelo Roberto.:

LA RUEDA DEL TIEMPO

Crié luciérnagas

Para verlas de noche

Brillando en el cuarto.


Nadé como un ágil pez

En las aguas más claras

Del Río de Agua Dulce.


Como un pájaro

Tuve cada vuelo

Con el viento más alto.


Anduve como animal suelto

Sin tener miedo de nada

En los senderos del bosque.


Pero la infancia tiene el sabor

De una fruta que termina

En la edad de los hombres.



Hace dos años, con motivo del XVI Encuentro de Poetas Iberoamericanos, traduje una porción de poemas de Cyro de Mattos, los cuales se incluyeron en la antología ‘Decíamos ayer’, dedicada a Fray Luis de León. Pero también en dicha oportunidad presentamos una amplia antología poética de su obra, por mí traducida y publicada bajo el titulo de ‘Donde Estoy y Soy’. Entre los poemas allí traducido hay varios de su libro ‘Oratório de Natal’. Pues bien, con motivos de la reciente Navidad, la editorial Duna Dueto, de Sao Paulo, ha publicado una nueva edición del mismo, esta vez con atractivas ilustraciones  de Ângelo Roberto.



NAVIDAD DE LOS NIÑOS NEGROS
Vieron al viejo gordo
Con la barba blanca
En el televisor de la tienda.
Vivían en el cerro,
El hermano quería un avión,
Una muñeca la hermana quería.
Dejaron las sandalias
En la ventana al sereno.
Nada vieron al otro día.
Del punto más alto
Miraban las nubes blancas,
Quietas en el azul del cielo.
La ciudad a sus pies,
Y en los jardines cada niño
Su juguete mostraba.
Ahí entonces supieron
Cómo el mundo se escondía
De Jesús, María y José.
La Navidad era la lágrima
Que descendía del rostro
Y una canción deshacía.


Cyro de Mattos es poeta, narrador, periodista, abogado,  miembro de la Academia de Letras de Bahía y ha obtenido varios galardones,  como el Premio Nacional Ribeiro Couto, el Premio Afonso Arinos, el Premio Centenario Emílio Mora o el Premio Internacional de Literatura Maestrale Marengo D’oro (Génova). Tiene obra publicada en Alemania, Francia, Portugal, Rusia, Estados Unidos, México, Dinamarca, Suiza e Italia. Entre sus libros de poesía están Vinte Poemas do Rio, Cancioneiro do Cacau, Ecológico, Vinte e Um Poemas de AmorDevoto do Campo y Oratório de Natal.


Los otros dos libros que me acaban de llegar son de narrativa: ‘Los Brabos’ (LER Editora, Brasilia, 2013, ilustraciones de Calasans Neto), cuatro historias atractivas por las cuales el autor obtuvo el Premio Afonso Arinos de la Academia Brasileña de Letras.  Y la novela ‘Os Ventos Gemedores’  (Letra Salvagem, Taubaté, 2014, pp. 207). Las leeré con la calma que se merecen, pero no quería dejar pasar la oportunidad para dar noticia reciente de estas ‘criaturas’ del destacado escritor de Itauba que tiene en la Poesía buena fuente de su narrativa, como es el caso de ‘Los Vientos Gimientes’, título de un poema suyo publicado en el libro ‘Devoto del Campo’.


Les dejo con unos versos eróticos de Cyro de Mattos:


Juzgué que ésta sería mi suerte,

Disfrutar de mi trabajo en el anillo

Generoso de tus ramas. De la miel

Gozar todo el placer hasta la muerte.






sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

UBE/SP Repudia Atentado



UBE/SP Repudia Atentado
Contra a Revista Charlie

A UBE - União Brasileira de Escritores, Seção de São Paulo,  manifesta o seu repúdio ao atentado infame e covarde contra a revista Charlie Hebdo.
O assassinato covarde de 12 profissionais da imprensa, na França, aparentemente motivado por motivos ideológicos que pretendem implantar o terror, é um atentado contra a própria liberdade de expressão, contra a humanidade, e, portanto, atinge a todos, inclusive os escritores do Brasil e do mundo.
A UBE registra o seu repúdio veemente.  

Joaquim Maria Botelho
Presidente

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Imitação Nordestina do Poema Latino de Catulo




Imitação Nordestina do Poema 
Latino de Catulo por Cid Seixas


O poeta e Professor Doutor Cid Seixas comunicou-me que, depois de muito tempo sem escrever nada que lembrasse poesia, tentou  uma imitação nordestina do poema latino de Catulo,  VIVAMVS ATQVE AMEMVS

Leia abaixo a imitação nordestina do poeta Catulo,  realizada com habilidade  pelo talento e sensibilidade do poeta baiano:


Moça da ilha de Lesbos,
vamos viver nossa vida,
amar, beijar, abraçar,
antes que chegue a Partida.
A luz do dia é breve
e logo vai se acabar
na noite eterna do nada
não há mais tempo de amar.
Desejada moça da Grécia,
dá-me mil beijos então,
depois me dá mais de cem
até contar um milhão.
Depois comece de novo
e vamos a conta perder,
antes que o mal da inveja
de mim afaste você.
O sol se põe no ocidente
para depois renascer,
os rumores dessa gente
não podem nos compreender.
Moça nascida na Grécia,
vamos viver e amar,
fazer brinquedos de amor
até o sol se apagar.

O texto acima, composto na forma de oitavas em redondilha maior, modelo das cantigas de cego das feiras do interior baiano, foi feito com o intuito de apresentar o sentido aproximado do poema de Catulo, citado no livreto
Desatino romântico e consciência crítica:
Uma leitura de  Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.
Endereço para ler na net http://issuu.com/e-book.br/docs/cidseixas

Eis aqui o original latino:

Viuamus, mea Lésbia, atque amemus,
rumoresque senum seueriorum
omnes unius aestimemus assis.
Soles occidere et redire possunt;
nobis cum semel occidit breuis lux,
nox est perpetua una dormienda.
Da mi basia mille, deinde centum,
dein mille altera, dein secunda centum,
deinde usque altera mille, deinde centum.
Dein, cum millia multa fecerimus,
conturbabimus illa, ne sciamus,
aut ne quis malus inuidere possit,
cum tantum sciat esse basiorum.