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quarta-feira, 31 de julho de 2013

O trovador Minelvino 
 ou do jeito que o povo gosta
           


Sertanejo autêntico, nascido no município de Mundo Novo, Bahia, o trovador Minelvino primeiro foi garimpeiro em Jacobina onde se criou. Depois passou a vendedor de coisas miúdas na feira de Jacobina: pente, espelho, escova, pasta dental, agulha, carretel de linha, sabonete, livrinho de cordel. Comprava os livrinhos de cordel a José Bernardo da Silva, João Martins de Ataíde e Rodolfo Coelho Cavalcante em Salvador ou mandava buscar pelo correio.
A primeira motivação que teve para contar uma estória com apelo popular veio da enchente de Miguel Calmon, lugar próximo a Jacobina. A enchente virou trem, alagou ruas, derrubou casa,  desabrigou gente e matou. Contaram-lhe sobre o estrago medonho que o rio fez,  ele então percebeu  que os acontecidos podiam ser contados como estória de  cordel. Compôs o livrinho e mandou para Rodolfo Cavalcante em Salvador, que fez algumas correções e imprimiu. Foi um sucesso. O primeiro folheto deu-lhe incentivo para continuar no ofício de trovador. Sem hesitar prosseguiu na jornada, deixando sua profissão de vendedor de coisas miúdas na feira.
Ele viveu mais de cinqüenta anos em Itabuna, cidade que conheceu no seu começo, os animais tropeçando na lama quando passavam  carregados de cacau ensacado. Tinha poucos bairros e  muitas ruas eram sem calçamento. No sul da Bahia foi se familiarizando com a arte de escrever estória em cordel. Ele mesmo imprimia as histórias que escrevia. De estória em estória,  contada pelo alto-falante na feira e na rua, foi vendendo os livrinhos.  E assim conseguiu criar os quatro filhos,  comprar uma casa modesta no bairro e os instrumentos necessários para tornar a estória que escrevia uma coisa do povo com um suporte material simples. Como contou em versos, ele mesmo escrevia a estória, fazia o clichê, a impressão e  ia vender o folheto,  cantando na praça pública, na rua e na feira para todo mundo ver. 
Atento aos acontecidos, façanhas e desastres, Minelvino tornou-se em pouco tempo poeta afinado com o verso popular,  do jeito que o povo gosta. Colocava na estória maravilhas do real, invenções do divino, notícias do amor e  dor, gente e bichos,  conselhos e saberes, tudo bem alinhavado na rima certa e espontânea. Utilizou em suas composições a sextilha, estrofe de seis versos  de sete sílabas. Como trovador sua arte de versejar  diferia do repentista, que faz o verso  cantado  no improviso, enquanto a dele manifesta-se na  composição popular da poesia escrita.
Escreveu mais de oitocentos folhetos de cordel. Sua arte rompeu as fronteiras regionais, passou a ser estudada em teses defendidas na universidade. Foi publicada em São Paulo pela Hedra, editora de circuito nacional, que em sua coleção Cordel, dirigida pelo professor Josep M. Luyten, Doutor em Comunicação pela USP, já divulgou   alguns dos mais relevantes e autênticos representantes da cultura brasileira, como Patativa do Assaré, Cuica de Santo Amaro, Rodolfo Coelho Cavalcante, Franklin Maxado, Manoel Caboclo, Oliveira de Panelas e outros. 
Tive um encontro com o poeta no local de sua casa onde estava montada  a  tipografia e a sua oficina de xilogravura. Disse-me que fazia a composição do livrinho com letras de chumbo compradas em São Paulo. Na composição ia colocando com paciência  letra a letra até fazer o nome. Aí fazia a chapinha e colocava na ruma. Depois na máquina para a impressão. Disse ainda que para o clichê da xilogravura na  capa fazia o desenho em umburaninha, madeira que é mole, dá polimento e não  pega bicho. Mostrou as ferramentas que utilizava no trabalho, faquinha, canivete, goiva, prego, furador, buril. Observou que a matriz da xilogravura geralmente servia  como ilustração para o tema da história.
Vi na parede da oficina vários diplomas e recortes de jornais emoldurados no quadro. Registravam o reconhecimento de sua fama e sua participação em eventos importantes nacionais, no setor da poesia popular e cantoria. Fotos com a sua passagem na romaria de Bom Jesus da Lapa. Tinha perdido a conta de quantos benditos havia escrito. Vendera dezenas nas romarias de Bom Jesus da Lapa, nos quais contava  com devoção e fé os milagres e estórias de santos.  Ficou por isso  conhecido como O Trovador Apóstolo.
A cidade entristeceu quando o trovador Minelvino faleceu com setenta e quatro anos de idade, vitimado por um infarto quando estava no hospital em busca de ser medicado e aliviar seu momento de dor. Um dos filhos contou que ligaram depressa o aparelho, colocaram a máscara no rosto para a nebulização. O coração, neste momento, foi atacado com um golpe forte. Fizeram massagem no peito, quiseram operá-lo. Já não agüentando mais o embalo da vida, o coração do poeta parou. 
Homem bom, querido pelo povo, de voz mansa. Todos os anos, o poeta  tinha seus benditos cantados pelos romeiros em louvor do Bom Jesus da Lapa. A televisão, a rádio e  o jornal deram  a notícia como cidade e região estavam abaladas com a sua morte. Os romeiros de Bom Jesus da Lapa sentiram  a perda de seu trovador apóstolo. Morreu sem fazer fortuna, como é costume acontecer com os legítimos poetas.
Até hoje a vida sabe que ficou mais pobre sem esse divino trovador.                

sábado, 27 de julho de 2013



                                    Nossa Saga



O termo saga significa narrativas históricas e lendárias, mescladas com fatos verídicos, imaginários e folclóricos, que contam  os feitos heróicos de um povo. Não tendo vindo da Finlândia e Escandinávia, nem sendo  falsa, inventada com a palavra alada na prosa poética de Guimarães Rosa,  a saga da civilização cacaueira na Bahia é muito  especial  e importante.  Forjada no espaço ocupado por uma geografia elementar, a saga do homem do cacau no Sul da Bahia foi implantada  com suor e sangue, cobiça e morte. No enfrentamento da natureza bárbara estabeleceu-se  um modo singular de vida ao longo dos anos.
O homem do cacau não mandou, ele mesmo foi com o facão na bainha, o machado na mão, o de-comer no embornal,  para recuar a selva hostil e impenetrável.  Derrubar, derrubar, derruba. Plantar  , plantar, plantar. Nas vestes simples carregou sombras e sortilégios, deu voo à razão, alimentou o coração com uma vontade de ferro para conquistar a terra, que lhe acenava e atraía com suas léguas cobertas pela mata virgem.
Mal surgia a manhã,  esse  homem levantava na solidão de seus confins,  de tal sorte era o destamanho da terra que um não sabia se o outro existia.  Conversava com os rios quando ia se banhar perto de clarear o dia. Contas, Pardo, Jequitinhonha, Almada, Salgado, Aliança, Cachoeira, os amigos que lá estavam com uma música líquida cheia de vozes cantantes para ressoar nos seus ouvidos. 
          Essa era a sua morada improvisada na infância da selva. O homem do cacau esteve no baile da caipora, levou mel, fumo de corda, cachaça, farinha, pólvora. Encontrou no mato escuro a prata derramada pela  madrinha lua. Escutou acauã nas manhãs e tardes   prenunciando chuva ou estiagem.  Dormiu com o boitatá no galho da jaqueira. Sonhou que era macaco, chupando amêndoas doces que valiam muito dinheiro. Os caroços chupados eram jogados com os dentes na terra virgem.  As sementes brotavam e viravam, daí a três, quatro, cinco anos,  roças cheias das  árvores dos frutos que tinham a cor de ouro quando amadureciam.
         A força, a alma e a vida do cacau  ergueram vilarejos e cidades, enquanto o relógio do sol resvalava-se nos cacaueiros entre o brotar dos verdes e a queda dos maduros. O  rigor do tempo que comandava os passos do homem,  de sol a sol, tinha  as estações temperadas com a chuva, que tocava piano quando caía grossa nas folhas secas cobrindo o chão da mata.
       O homem do cacau adubou a terra com a carne dos dedos, molhou-a com o suor do rosto, teve o primeiro jardim no cacaueiro florido. Sorriu com a bela surpresa que um dia fez seus olhos ter  um brilho vivo,  o rosto com tanto riso que ele não se agüentou em pé, de tanto que ficou contente.  Criou uma folhinha tão dele  para marcar os dias nos talhos  da jaqueira. Comeu jaca no café com rapadura, assou e mastigou bicho do ar e do chão, na  noite escura foi iluminado a candeeiro. Guardou debaixo da cama de vara a criação do terreiro,
       Esse homem dormiu ouvindo a orquestra fantasmal dos sapos que coaxavam lá fora no brejo. Soube do rastejo da noite escura, o  bote da tocaia nas serras e baixadas. O estampido na curva da estrada, os cacaueiros  inventando ciladas na trama da ambição  desmedida. Matou, morreu, sujou-se de sangue. Renasceu como um mato qualquer. Nas carnes profundas da terra com avidez instalou seu reino. Teve nessa hora tensa, entre o épico e o dramático, a barba por fazer, o visgo nas mãos, o cipó nos pés, as unhas de gavião crescidas, a pele grossa como casca de madeira velha.
       Ébrio de frescor silvestre, de repente se viu nas cidades que  criou com umas mãos  rudes e persistentes,   amamentando-se  com o tempo desalmado de todos os dias.  Esperou,  esquecido, a vida inteira. Colheu a vida inteira. Quebrou, transportou a vida inteira. Pisoteou a vida inteira, respirou todo o ar do deserto. Na trama dos acontecimentos, cuja música era tocada  pela orquestra do destino, viu seu  território pulsar e crescer, superar  a marca de cem municípios, movimentar-se  na energia de   uma população com  mais de um milhão de habitantes. Os ventos trouxeram   a benesse das safras, o mel para alguns, o fel para muitos.  Custa a acreditar que, depois do auge das ricas plantações do cacau no passado,  viva hoje em clima de melancolia, sem entender a razão de estar sitiado de ocasos. Se a  terra  tremia antes com o nome daquele  que era um dono abastado de  roça de cacau,  hoje somente ele e  a tristeza,  nada mais. 
         Esse homem  que veio de longe, muito longe, cheio de sonhos, para conquistar a terra e ficar rico da noite para o dia,  com orgulho dizia ao chegar ao Sul da Bahia :
                     - Cheguei para ser um próspero dono de roça de cacau.
                     E, tendo a certeza da guerra vencida,  finalizava sem hesitar:
                    - Deixei mãe quando menino. 

terça-feira, 23 de julho de 2013

Salamanca Promove Encontro
de Poetas Iberoamericanos
      

      O XVI Encontro de Poetas da América Hispânica irá prestar homenagem a Fray Luis de León e  será realizado no  Teatro Liceu de Salamanca, Espanha, nos días 2 e 3 de outubro. O Encontro receberá cerca de cinquenta poetas de treze países iberoamericanos e, entre eles, o baiano (de Itabuna) Cyro de Mattos, que lerá poemas de sua obra e lançará a antología poética “Onde Estou e Sou” no Centro de Estudos Brasileiros, da Universidade de Salamanca.
        A antologia “Onde Estou e Sou” é uma publicação bilíngue da Editora Ler, de Brasília, com   prefacio e tradução do poeta peruano-espanhol  Alfredo Pérez Alencart. Além do lançamento do livro,  haverá também  uma exposição de diversos livros de  Cyro de Mattos no Centro de Estudos Brasileiros, durante o Encontro. .  
         “O Encontro, de Poetas Iberoamericanos é promovido pela Fundação Cultural de Salamanca. “Já se tornou em referencial da literatura da América Hispânica, assim como um espaço obrigatório para convivência e intercambio entre os amantes da boa poesía”, declarou Alfredo Pérez Alencart, o coordenador  do evento. Na sua décima sexta edição será aberto com a conferência de Luis N. Rivera, renomado teólogo de Porto Rico, e contará com uma convidada especial, a japonesa Satoko Tamura, tradutora de Pablo Neruda, Gabriela  Mistral, Cesar Vallejo e Garcia Márquez.
           Entre os poetas iberoamericanos que, como convidados,  participarão do XVI Encontro e integrarão a antología dedicada a Fray  Luís León estão Elvira Ardalani (México), Eduardo Curbielo (Uruguai), Jorge Cadavid, Juan Felipe Robledo e Catalina González Restrepo (Colombia), Maria do Sameiro Barroso, Antonio Salvado e Albano Martins (Portugal), Gary Daher (Bolívia), Julia Erazo (Equador), Cyro de Mattos, Rizolete Fernandes, Álvaro Alves de Faria e Paulo de Tarso Correia de Melo (Brasil), Humberto Avilés (Nicaragua), Nestor Ulloa (Honduras), Hector Ñaupari (Peru), Enrique Viloria e José Tomás Angola (Venezuela) e  Juan Cameron (Chile). A delegação espanhola será integrada por  Antonio Colinas, Víctor Manuel Márquez Pailos, Daniel Zazo, Carlos Aganzo, Jesus Hilario Tundidor, Rafael Soler, Jesus Fonseca, José María Muñoz Quirós, Araceli Sagüillo, Jesús Losada, José Antonio Valle, L. Samprón e José Pulido.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Academia de Letras da Bahia discute a cultura no século XXI
Seminários com grandes nomes de nossa cultura nas letras e nas artes

No próximo dia 25 de julho, quinta-feira, às 17h, a Academia de Letras da Bahia dá início a uma série de mesas-redondas e conferências intituladas “Seminários Arte e Pensamento – Transformações da Cultura no Século XXI”, com escritores, artistas e pensadores da cultura em língua portuguesa. Com periodicidade mensal, o evento traz reflexões sobre literatura, artes e as transformações da cultura. Na mesa-redonda de abertura, os debatedores serão a escritora, professora da Universidade Federal da Bahia e membro da ALB Cleise Mendes, o artista plástico Vauluizo Bezerra e o filósofo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Guilherme Castelo Branco. A mediação será da professora do Instituto de Letras da UFBA e membro da ALB Evelina Hoisel. O tema para discussão será “O Corpo e suas Cartografias”.
Sob a coordenação dos acadêmicos Luís Antonio Cajazeira Ramos e Paulo Costa Lima, os seminários serão realizados no auditório da ALB, na Avenida Joana Angélica, 198, no bairro de Nazaré, em Salvador, com entrada franca. O programa faz parte das atividades do Ponto de Cultura da ALB, com o apoio da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia e do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia. O IRDEB transmitirá ao vivo os encontros (www.irdeb.ba.gov.br) e a TVE fará a gravação.
Sendo cada encontro sempre numa quinta-feira, está programada para 22 de agosto a conferência “A Paz Perpétua em Antonio Vieira: Perspectiva e Atualidade", a ser ministrada pelo filósofo e professor da Universidade de Lisboa Pedro Calafate, com mediação do escritor e presidente da ALB Aramis Ribeiro Costa. Em 26 de setembro, haverá a mesa-redonda "A Poética da Cidade", com o poeta e ex-diretor do INEPAC/RJ Alexei Bueno, o cineasta e diretor-geral do IRDEB Pola Ribeiro e o arquiteto, urbanista e membro da ALB Paulo Ormindo de Azevedo, mediados pelo poeta, letrista e membro da ALB José Carlos Capinan. Em 24 de outubro, será a conferência "Cidadania, Pertencimento e Liberdade", a ser proferida pelo poeta, jurista e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, com mediação do memorialista, ex-governador da Bahia e membro da ALB Roberto Santos.
Novos seminários darão sequência ao projeto, com vistas a promover a discussão de temas atuais, suscitar o debate do meio acadêmico com a sociedade e fomentar o interesse por diversas manifestações de cultura em língua portuguesa.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ecos do Campo da Desportiva
                    
                                         
                                            

Recebi e-mail de Florisvaldo Mattos, grapiúna de Uruçuca, antiga Água Preta, jornalista e consagrado  poeta baiano. Leia o que ele mandou dizer:

“Vivamente interessado, até curioso e encantado, logo que recebi hoje, bailei (como dizem os argentinos) por toda a extensão de seu O Velho Campo da Desportiva, lembrando de coisas a que assisti, acompanhei, e pessoas, então jovens, com as quais convivi, e até com elas joguei em peladas vespertinas naquele templo de emoções juvenis, em companhia de Vitório e seu irmão, o vitorioso e consagrado no futebol amador, Zequinha Carmo, ambos meus colegas no Ginásio da Divina Providência. Joguei também peladas com mais dois ali, embora não lhes tenha acompanhado as carreiras vitoriosas, desde que, quando brilharam  na seleção de Itabuna e em clubes, eu já não andava por Itabuna, formado em Direito e fazendo jornalismo em Salvador. Joguei  também na Desportiva com Santinho e Tombinha.  No entanto, presenciei pelo menos dois eventos daquela saga aqui na capital: quando da conquista do torneio intermunicipal na Fonte Nova, em 1957 (tinha que estar lá por questão de honra e fidelidade a origens adolescentes), e, em 1961, quando a seleção jogava uma partida, no Campo da Graça, então destinado a jogos da divisão de amadores, contra seleção municipal cujo nome não guardo, mas lembro que a vitória pertenceu a Itabuna, com Zequinha Carmo goleador.
“Suas narrativas me trouxeram novidades interessantes, mas as maiores foram  referentes ao jogador Nandinho (Epaminondas da Silva Moura), que jogou no Flamengo, com muita classe e fama nos anos de 1941, 42 e 43, sendo duas vezes campeão, na avalanche para o tricampeonato de 1944. Primeiro, não sabia que ele era itabunense; nem que era tio do saudoso Santinho. Sabia que jogara no Bahia. Tanta fama conquistou este craque, malabarista da bola e goleador, que talvez seja o único futebolista baiano a figurar em letra de samba, como neste que foi sucesso na época (1941) na voz do grande Moreira da Silva - "Doutor em futebol", samba de Waldemar Pujol e Moacyr Bernardino -, em cuja letra protagonizam dois versos, acentuando a ginga da interpretação, pois, numa tirada de humor malandro, o personagem promete ser "um craque verdadeiro, um perigoso artilheiro, e ser sucessor de Pirilo" (grande goleador daquele Flamengo), para então adiante avisar: "suplantando o sêo Nandinho", no drible de corpo. Fui ver no Google, Nandinho nasceu em 8 de novembro de 1922, não em 1921, mas não encontrei data de falecimento dele. Estará vivo ainda? Como resgate de uma saga esportiva, seu livro é um primor de memória cultural e sentimental. Em tempo: também tive dúvidas quanto ao time em que jogava o craque mineiro Barbatana, um primor de centromédio, hoje meia de ligação, eu vi jogar. Suponho que se chamava Metalusina. Parabéns, grande, e um abraço. Florisvaldo”.
Já em outro e-mail opina o poeta e jornalista Florisvaldo Mattos sobre a essência sensitiva do meu  livro O Velho Campo da Desportiva:É um livro precioso, para espíritos que se associam a essa lembrança  do passado itabunense recente, ditado pelas vozes do coração e do amor à terra e sua  gente”.
Adianto ao leitor que O Velho Campo da Desportiva não é um livro de história, que precisa relacionar os fatos com neutralidade, objetividade, seqüenciando-os com precisão as datas e situações elencadas. Trata-se de livro de memórias, que relata e, ao mesmo tempo,  recria o que o autor viveu com a alma sensível de quem participou, viu e  ouviu sobre a vida em determinado lugar. Não é um livro que arrolou  pessoas e fatos para servir de documento para quem queira abordar o assunto sob bases históricas. É formado de gente e suas emoções,   que ficaram latejando na alma do autor e que emergem no livro, hoje, através dos sinais  visíveis da escrita  para tocar o coração do leitor.  Busca recuperar um tempo perdido, sem querer agradar o ego de algumas pessoas, sobreviventes daquela saga.   
Quanto ao amigo Florisvaldo Mattos, grapiúna de Uruçuca, antiga Água Preta, homem generoso, desprovido da inveja e intriga, jornalista  lúcido, que sabe com equilíbrio  analisar e aproximar dos fatos as pessoas,  poeta humaníssimo, de linguagem cativante, rara inspiração, reconhecido nacionalmente,  só me resta agradecer comovido suas impressões lúcidas,  favoráveis ao  meu livro O Velho Campo da Desportiva. As memórias relatadas e as literárias,  reunidas  no livro, com feição de crônica, são dedicadas aos que fizeram daquele campo de futebol amador  um lugar de encanto, lazer e emoções.  



sexta-feira, 12 de julho de 2013




                             Natureza Viva 

Crônica de Cyro de Mattos



Perguntado ao primeiro homem que pisou na Lua qual foi a primeira impressão que teve, o astronauta norte-americano respondeu que  nada é mais triste do que o lugar onde não existem os sons, tudo ao redor é silêncio. Essa resposta do astronauta Neil Armstrong enseja outra pergunta.  Que seria de nós, os humanos, em nossa condição finita e contraditória, se não existissem os passarinhos soltos no embalo festivo  da natureza? Sem os seus cantos com notas coloridas  e pios apelativos do amor para o acasalamento?  Por extensão vem na mente mais esta questão: o que seria de tudo sem a presença dos bichos, os nossos parceiros?
Admiro o canto mavioso do sabiá. Na receita dada pela natureza quando se quer algo para sonhar é só ouvir o sabiá.  O curió não faz por menos, trata-se de outro músico divino. Quando alguém estiver só e não quiser morrer de solidão, é também aconselhável que procure ouvir o curió. É assim a vida do ar, a de sonhar e encantar.
Um passarinho que me deixa alegre quando ouço é o bem-te-vi. Pousado na antena de televisão sobre o telhado, todos os dias ele avisa que a manhã está chegando  luminosa em sua carruagem de ouro. É bonito mesmo de ver a manhã nessa hora cheia de luz. Se eu estou no quintal, o bem-te-vi diz que está me vendo no jardim, colhendo rosas para o meu bem-querer. Aprendo com ele que na natureza nem sempre vence o mais forte. O gavião é bicho temido, mas, quando passa perto de um ninho de bem-te-vi, arrepende-se do que fez.  O corajoso bem-te-vi afasta o terrível agressor dali de perto, sai bicando a cabeça dele e, no voo ziguezagueante, bota o maior para correr.
 O grilo retira de sua serrilha sons finíssimos. Está sempre a repetir que é um guardinha feliz no seu cri-cri constante, no campo ou cidade, verão ou inverno, em noite enluarada ou de escuridão. Já o gafanhoto tem um tambor que sob as asas esconde. Animado, bate nele com fervor e tira sons interessantes. Tenho certeza que no reino animal ninguém vai conseguir saber como é que o gafanhoto tira aqueles sons cada vez mais vibrantes de suas asas trepidantes.
Cada bicho tem suas artes e artimanhas. Apresenta-se no espetáculo da natureza com as suas anotações da vida.  Graça, cheiro, alegria, coragem, utilidade, amor, medo, sabedoria. A lontra, por exemplo, pelos caminhos d’água, no vaivém escorregadio, abocanha cada peixe.  Mas, se está em perigo, ela dribla o caçador e mergulha rápida no rio. Boba ela não é,  nunca quis  perder o pelo de luxo desde que no mundo surgiu.  Certa vez, minha  avó Ana  contou que ela não se separa  de seu casaco  desde o tempo em que os bichos falavam. A lontra, quando se vê salva da perseguição do caçador, lá adiante numa pedra,  vai tomar seu  banho de sol na ilha que descobriu.
               Gente no campo já viu a chuva grossa tocar piano na mata com o chão coberto de folhas. Quando molha o pasto seco, a chuva deixa no ar aquele cheiro cheiroso de terra molhada. Daí a poucas semanas,  o capim ressurge alegre e viçoso. E as formigas, sob o sol brilhante, seguem na trilha como trabalhadoras incansáveis, mostrando como a vida é querida por todas elas, de folhinha em folhinha.
         Agora uma cena que não gosto de ver é quando encontro sem querer o homem sem dó, que gosta de prender o passarinho na gaiola. Lá dentro era ele, o dono, que deveria permanecer para saber como passa a vida feita sem graça. Os bichos são necessários ao convívio dos seres humanos em nosso planeta, ontem como hoje. Cada  um no seu canto, em perfeito entendimento, não preciso mais dizer.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Alfredo Pérez Alencart: Referência
                     Literária e Cultural em Salamanca



Entrevista a Cyro de Mattos
 

Vamos conversar agora  com Alfredo Pérez Alencart, poeta peruano-espanhol, profesor de Direito do Trabalho da Universidade de Salamanca, Espanha, colaborador de revistas e jornais culturais importantes, membro da Academia Castelhana e Leonesa e da Poesia. Para ele, devemos clamar contra qualquer injustiça, impunidade ou atropelo da dignidade humana, sem conivência com as políticas que ferem os justos direitos dos homens.





Cyro de Mattos –  Você foi homenageado por escritores e artistas de quatro continentes por sua obra poética e trabalho incansável em favor da cultura. O que significa para você A Arca dos Afetos?

Alfredo Pérez  Alencart – Significa a prova  evidente de que  existe  a generosidade do ser humano, de que nem sempre triunfam  as demandas  e as invejas no mundo das letras. Também significa que algo bom terei semeado no coração de tantos amigos e conhecidos para que me tenham dedicado formosos e profundos poemas, ensaios, esboços biográficos e pinturas.
Arca dos  Afetos é um volume em que Verónica Amat, apoiada em minha querida Jacqueline, soube aferir  todas as vertentes de minha escritura poética. Com mais de duzentos e trinta escritores  e artistas que se reuniram para dar-me esse abraço fraterno, certamente isso me trouxe a lágrima de uma emoção feliz.
Devo permanente gratidão aos que nesta  Arca estão presentes,  mas também a outros muitos poetas e narradores que me fazem chegar testemunhos e refelexões  sobre minha obra e pessoa,  ao se Inteirar através dos meios de comunicação desta homenagem gestada desde minha Salamanca.
        


CM –  E a poesía?   Para que serve? Vale a pena fazer poesía hoje quando a linguagem que prevalece na sociedade é a da   imagem,  som e  meios computadorizados?

APA  - A Poesia nada vale,  por isso mesmo se torna imprescindível. Como não são todos que podem ter acesso aos diamantes, é assim também a Poesia, um bem raro,  uma senhora taciturna para seres que têm outras prioridades aparentemente mais  importantes. Os poucos são muitos: entenda-se  isto como aquilo  que certas vozes  poéticas enchem  de novos sentidos o mundo que habitamos.
Que fazer com os ruidos, as imagens, as tecnologías que inundam tudo? Nada, e eis que alguns desses inventos  ajudam em parte a divulgação da própria Poesía. Ressalte-se que o poeta não carrega âncoras porque sempre aguarda  sinalizações ou se encarrega de transmiti-las. Sempre está na contracorrente das modas e não se intimida  ante o  medo que inunda cada época da História.
Eis que a poesía vale a pena  porque desde o Princípio  permanece impregnada do futuro: ela sabe piscar com  seus pressentimentos ao largo de séculos,  mas também transita na realidade cotidiana   quando seus cultores clamam contra  injustiças sociais, proferem o fluxo de Eros  e cortejam companhias,  elevam orações a Deus e ao verbo encarnado,  são líricos e elegíacos ante o  mundo que sangra e o planeta se contamina…
A Poesia é o futuro, e o futuro é o resplendor de uma criança; também o Amor  soberbo à altura de outro Gólgota com linhagens nunca vistas.
Poesia, insondável permanência.

CM – Qual o compromisso do poeta perante  esse  mundo que prioriza o estômago,  o sexo e o poder como sentidos exclusivos da vida, desviando-se cada vez mais  dos valores éticos e espirituais? 

APA – O maior compromisso do Poeta deve ser o de comunicar a poderosa ilusão de sua mensagem. E para isto, além de ser  suficiente no clima de sua Linguagem,   primeiro deve  romper as fronteiras entre o corpo e o espírito: nem estar flagelando a alma do outro, nem atender apenas à fome da pele   ou do desejo amoroso: nada de alardes  superficiais nem retratos complacentes ou desfigurados no mais íntimo do ser humano.
Bom frisar, o poeta  deve  saber que   o poder é uma mortalha ávida    para os que não acreditam nela com o seu  não valor. Em geral o poeta descrê desse tipo de poder e se afasta das cobiças e perversões que mais oferecem essa forma de relevância política,  econômica e afins.
Sempre  no Poeta autêntico o que deve ser cultivado  é o comportamento ético, a prevalência do justo e o solidário, a entrega por causas à primeira vista perdidas. E, claro, ter uma exigência suprema com relação a seus frutos: só deixar degustar a excelência de sua seiva,  não o que falta para amadurecer.  Há que comover, poeticamente, o coração dos outros.


CM -  Nascido no Peru,  radicado há anos na Espanha,  como você conseguiu  se adaptar ao contexto cultural e universitário de Salamanca?

APA – Vivo há cerca de vinte anos em Salamanca. Mas antes, em minhas raízes, a Espanha já estava muio presente em razão da emigração de meu avô paterno à Amazonia peruana. Ele era de Asturias. Além disso, minha avó vinha dos Troncoso da Galícia. Quanto a mim tem sido uma nova travessia  até às origens , o retorno a um chão que parcialmente me pertencia.
Salamanca converteu-se em minha cidade-mãe. Penso que este casamento vem se consolidando porque eu a escolhi: estar em Salamanca foi minha escolha antes de  de chegar a  ela  para realizar estudos jurídicos. Isto quer dizer  que não é minha cidade de adoção, mas de eleição.
Aquí sou profesor de Direito do Trabalho desde 1987. E aquí tenho podido corresponder a tão grata acolhida, dando parte de minhas energias para estender pontes  entre Salamanca e a Iberoamérica. Também entre Salamanca e outros países do mundo. A Literatura, em geral, e a  poesía, em especial, têm sido os pilares na consolidação desta plataforma cultural de tão gratificantes frutos. Um deles, o mais apreciável, é o Encontro de Poetas Iberoamericanos, que no mês de outubro celebrará a XVI  Edição, dessa vez para homenagear Fray Luís de León.
Sob o plano pessoal, devo dizer que um bom número de escritores passam em meu gabinete, visitam-me, trazem-me suas obras estimadas  e levam algumas minhas. É um intercambio fecundo para o meu ser, muito generoso,  que sensibiliza a um simples provinciano universal.

CM -  Dono de um discurso  vigoroso,  sua linguagem transita  com suficiência tanto no épico como no  lírico. Como você situa Cristo na Alma no conjunto de sua obra,  livro  que impressiona pela recorrência  à metáfora e à imagen, na busca incessante de um eco que salde dois mil anos de todo o peso terrestre, finitudes e contradições, dominações e desigualdades. Fale um pouco desse livro.


APA – É a  mais completa de minhas criações. Foi gestado em cinco anos, mas o parto durou três meses. De fato é um poema extenso, dividido em cinco partes,  que se fracionam em dez textos de treze versos cada uma. Nele  está contida minha dupla fé: a crença na Poesia e em Cristo . Por acaso isso não é  o mesmo, posto que o Amor engloba tudo?
Cristo é um Poeta cujas parábolas atravessam séculos, cujos exemplos calam no mais profundo dos seres sensíveis, cuja missão é assumida por aqueles que amam o próximo. Uso um idioma mesclado de castelhano antigo e  certos neologismos  deste século: tem força e, ao mesmo tempo, ternura , pode parecer  prosa, mas possui o ritmo que faz dançar as sílabas…
Como poeta, dou-me o direito ao divino e o exerço neste livro, que é oração,  mas também  atrito  contra hipocrisias e fariseísmos  contemporáneos, religiosidades ociosas,  que não cumprem  com a imensa  preocupação social, disseminada nos Evangelhos e nos profetas. Corpo e alma não estão cada um no seu lado, configuram  um Todo, que merece reviver com nova luz.


CM -  Quais os poetas  que mais lhe influenciaram?

Píndaro, Vallejo, Salomón, Rilke, Romualdo, Cernuda, Job, Dario, Bashô, Baquero, Horácio, Pessoa, David, Quevedo, Isaías, Gangotena, Hölderlin, Eclesiastes, Perse, Ovidio, Tundidor, Nezahualcóyotl...

Ampla seria a relação de poetas que transitam dentro de mim ou que me carregam em suas costas: assumo como minha essa linhagem  e me considero um pequeno elo na cadeia poética que não se funde jamais.

CM - Com  uma obra reconhecida, varias vezes  premiada, o que vocè diría aos poetas que querem fazer de sua vocação um projeto de vida?

APA - Que tenham os olhos como faróis porque a Poesia é o sol dos cegos. Fazê-la um projeto de vida é saber que, ainda no meio do deserto, saberão encontrar o oásis que salva.  Para isso, não se fixem nas ganâncias materiais: nada de um iate  poderá levar o seu caixão, mas, sim, algum lembrete no qual se anotem uns versos do viajante ou o Cantar atribuído a Salomão.



·        Tradução do espanhol por Cyro de Mattos 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Rio Morrendo de Sede

Rio Morrendo de Sede


                                    Crônica de  Cyro de Mattos
      

          E dizer que esse rio já forneceu água de suas fontes puríssimas para que todos matassem a sede no bebedouro da vida. Isso foi há muito tempo, a  cidade tinha uma população pequena. Talvez nem chegasse a trinta  mil habitantes. Ainda não havia sido instalado o sistema de abastecimento de água encanada para servir à população. O aguadeiro trazia a água do rio nos carotes, pequenos barris feitos com madeira de putumuju, que eram  carregados pelos jumentos. Cada jumento carregava quatro carotes, dois de cada lado, pendurados na cangalha. O homem anunciava na rua: “Água do Mutucugê! Água boa do Mutucugê! Água fresca do Mutucugê! Quem vai querer?”
        O rio tinha muita gente que vivia de sua bondade. Lavadeiras, aguadeiros, pescadores e tiradores de areia, usada nas construções residenciais, armazéns e lojas do comércio. Uma gente das camadas pobres da cidade   tirava o sustento da família com o que o rio lhe fornecia, de janeiro a janeiro. O rio era chamado de pai dos pobres. 
       Antes de ser construída, perto da Ponte Velha, a represa, que submergiu  as inúmeras pedras pretas, espalhadas em muitos trechos do rio, o velho Cachoeira tinha um visual para agradar a quem visse.  Baronesas não ficavam entulhadas no lençol de água que passou a cobrir toda a extensão do rio. Desde o bairro da Burundanga  até lá onde o rio  faz uma curva e se despede da cidade, conversando de dia com o sol, à noite com a lua, por entre as pedras pretas, rumo ao mar de Ilhéus. 
        Homens e meninos  retiravam a areia do rio com a pá, que ia e vinha no esforço do dia. Tempo bom para a areia ser retirada  era nos meses de verão. A cidade toda sabia que pelas mãos do areeiro a argamassa da casa era feita de fibra específica: calo, suor e areia. O homem passava pelas ruas, a taca silvando o ar. Caminhava apressado, tangendo os jumentos  carregados de areia nas latas. Um poeta da cidade resumiu  em versos que as casas cochichavam nesse momento em que o homem passava. Comentavam que a areia sem a pá não seria dádiva. Nada seria a pá sem a areia. Ajoelhando as fachadas, as casas  tomavam a bênção ao velho rio. E agradeciam ao tirador de areia.
      A lavadeira tinha as mãos grossas de calo de tanto bater roupa na correnteza de águas límpidas. Durante a semana descia o caminho do  barranco com a trouxa  de roupas sujas  na cabeça. Quando chegava à beira do rio, colocava a trouxa de roupas  em uma pedra grande, junto ao areal. Não demorava e começava a tirar as roupas da trouxa. Molhava, ensaboava, esfregava, lavava e torcia. Estendia as roupas nas pedras pretas para secar ao sol. De repente as pedras pretas, cobertas de roupas estendidas, apareciam coloridas naquele trecho do rio.
       O rio tinha muitos peixes. Robalo, pratibu, carapeba, piau e bagre. E outros pescados: pitu, camarão e acari.  Para não falar nos peixes miúdos,  piaba, moreia, jundiá e beré. Pela manhã, o  pescador passava com as fieiras  de peixe,   batia na porta  e oferecia os pescados  à dona da casa.  “Peixe fresco do rio Cachoeira!”  Na semana,  de casa em casa  a cena se repetia.  Na feira, aos sábados, o litro cheio de camarões era vendido por um preço barato na banca de peixe do pescador mais velho do rio Cachoeira.  Um preto magro, a cabeça branca, o nariz achatado, os lábios grossos:  o rosto com rugas marcava  na pele crestada que o sol havia passado por ali durante muitos anos.
          O rio virou um grande esgoto a céu aberto. Não há mais peixe, borboletas no barranco, o espelho onde o sol costumava se admirar nas horas banhadas de luz. Ninguém se atreve a tomar banho nas suas águas. Está  entulhado de sujeira, viscoso, gangrenado com os detritos que as bocas de vômito da cidade despejam em seu ventre. Se os políticos e setores importantes da sociedade quiserem podem reverter o quadro deplorável em que se encontra o nosso bondoso rio. Basta ouvir o que a sua voz entristecida clama: “SOS, cidade, antes tarde do que nunca”.  É questão de boa vontade. 


*Cyro de Mattos é escritor, poeta e advogado aposentado. Premiado no Brasil e exterior.